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O Comboio

O comboio anda para trás. Sabes como odeio viajar para trás. Mas odeio ainda mais agora, por mostrar como eu evidentemente me estou a afastar de ti. Uma viajem para trás é o que nos separa. E parece um mundo. O comboio arrasta-se pelos carris, e arrasta-me para longe de nós. Parece que corre enquanto rasteja. Mas não interessa como, só interessa que me afasta de ti e da paisagem mais linda que é o teu olhar no meu. Penso em como fomos feitos para estarmos perto e, mesmo assim, estamos longe.

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De repente, vejo a paisagem parar. Famalicão. E do canto da minha janela espreita um velho e antigo relógio. Está a gozar connosco. É velho como o nosso amor, que é maduro e brincalhão. Amor que se tem vindo a construir desde sempre, com o passar do tempo. E os seus ponteiros andam à velocidade da luz, como o nosso tempo juntos. E é irónico que um relógio goze assim com a nossa situação, tal como a lua estava a gozar há pouco. Mostrando-se no céu à luz do dia só para nos permitir sofrer cada minuto em que se vai embora.  E, devagar mas depressa, ela vai-se. E não voltam mais luas contigo até eu me ir embora. Aquela lua foi a última. Por agora.

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Eu deixei o bilhete a embrulhar o meu coração atrás da fotografia no relógio que te dei. Conta os minutos que estarás longe de mim. Serão muitos para aquilo que eu queria que fossem, mas ainda assim parecerão poucos quando vires o nosso retrato e lembrares tudo o que somos juntos. Somos amor e felicidade. Somos carinho e dedicação. Somos persistência e força. Somos harmonia e eterna aliança. Somos tudo a sermos nada. Somos nada a sermos tudo. Somos tão mais do que esta distância. Somos resistentes na batalha e vencedores na guerra. Somos mais do que corações partidos e saudosos. E que nunca hajam duvidas sobre aquilo que não somos.

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O comboio recomeça a viagem. Viagem longa que me dá tempo para pensar em ti, tempo para me permitir ficar triste, tempo para me permitir remoer o porquê da distância. O tempo continua a passar e soa doloroso agora que não te tenho. Queria que o tempo passasse rápido quando estou sem ti e devagar quando estou nos teus braços. Sinto a tua falta e não é uma ferida que possa curar. Sinto que sou um botão de autodestruição em constante pressão quando me estou a afastar de ti. Dói. Rasga. Aperta. Explode. Relembro então, em busca de alívio, o nosso último beijo. Triste carinho, como este triste caminho.

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Mal me despedi de ti. Um beijo fugaz não me chega para saciar todos os dias que vou ficar sem ti. Um beijo longo e fundo também não chegaria. Mas qual é o coração que ama e que se contenta com uma qualquer despedida do seu amado? Eu não quero despedidas, quero sim a tua mão na minha e a promessa da eternidade mais eterna. Quero que cuides de mim, que me abraces e digas que o comboio não está a arrastar-me para longe. Talvez se eu fechar os olhos com muita força e te desejar ainda com mais força, talvez assim tu venhas comigo e estejas comigo e nunca me largues.

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E, então, eu fecho os olhos com força. E desejo com mais força ainda que venhas, e estejas e sejas sempre tudo comigo. Desejo-te ao meu lado. Desejo com tanta força que me esgoto. Com tanta força que a minha testa franze e não há beijo que me tire as rugas de saudade. Desejo que sejas a âncora do meu navio e que me segures bem forte no meio da tempestade que somos separados um do outro. Desejo imparavelmente. E quando abro os olhos, é real. É pura realidade. Uma realidade em que o comboio me leva. É verdade que embora eu acredite e deseje e ordene, tu não estás. É real a dor e a saudade. É real isto que sinto… Sem ti.

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Uma viagem para trás é o que nos separa. E sabes como eu odeio viajar para trás.

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Lara Filipa xX

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