Lara Filipa | Escritora

Querido mundo,

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Esta manhã, encontrei-me num jardim totalmente deserto às sete da manhã. Nesse particular acaso não existe nada de extraordinário, mas deixa-me terminar. Vi, ao longe, dois homens a caminhar na minha direção. Olhei em redor e comecei a pensar em como se eles me quisessem atacar, assediar ou violar, eu não teria como me proteger ou defender. Ninguém mais estava ali caso eu quisesse gritar por ajuda. Comecei a imaginar toda uma série de eventos terríveis. Ao vê-los aproximarem-se de mim, gelei e subiu pela minha espinha, um arrepio que não sei explicar. Náuseas. Não sei se era medo, apreensão. Não sei definir, mas sei que era um sentimento muito forte. Os dois homens passaram por mim, sem que nada tivesse acontecido e eu quase vomitei de alívio.

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Repara, meu mundo, eu cresci numa sociedade em que os que me rodeiam dizem coisas como "não te vistas de forma oferecida", "não te exponhas", "lembra-te de nunca provocar", "tem cuidado e se um desconhecido se aproximar, foge o mais rápido possível". Naquele momento, eu baixei os olhos para fixar o chão e reparei que levava vestido umas calças de ganga, uma t-shirt e um casaco fino que pouco deram do meu corpo aos olhos dos homens que por mim passaram. E, mesmo assim, tive medo. Não importa realmente o fim que a situação teve. O que eu quero dizer é que não interessa o que eu pudesse ter vestido ou feito, porque se aqueles homens tivessem algo perverso em mente, nada do que eu tivesse feito ia alterar o que acabaria por acontecer. Mas as mulheres ainda se sentem culpadas e são culpadas aos olhos de uma sociedade que lhes aponta o dedo ao invés de agirem pela igualdade dos sexos.

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Querido mundo, eu lamento, mas não quero viver para ser mulher numa sociedade onde isto acontece. Uma sociedade em que independentemente do que o homem faça, eu sinto aquele arrepio. Não quero sentir isso outra vez. Por isso, resta-me agir. Quero apelar à junção de todos (homens, mulheres e outros) para uma luta que decerto não acabará nesta geração ou até na próxima, mas que será árdua e contínua e é por isso que esta luta precisa de todos nós. Eu quero lutar pela igualdade dos sexos. Eu quero fazer com que eu e outras mulheres possamos andar numa rua deserta sem sentir aquele arrepio que hoje me assombrou.

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Lutemos por um mundo melhor. Um mundo em que a igualdade não pode ser uma utopia.

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Lara Filipa xX