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O País Das Memórias

Memórias. Tantas memórias. Quantas vezes poderá uma única alma reviver o mesmo instante? Não sei. Mas sei que vivi e revivi os momentos passados. E ainda vivo momentos que mais tarde recordarei. Vivo, desta forma simples e única, com um só rumo: eu própria. Eu guio quem sou e procuro-me. E recordo-me. Lembro quem sou e quem fui num qualquer país de memórias e recordações apenas minhas. E lá me perco. Tento alcançar-me, mas os meus pensamentos mais profundos habituaram-se a engolir o meu ser. E eu acabo sempre a navegar para bem longe de tudo. Longe de todos. E de ninguém.


No país das minhas memórias, vivem também esperanças e sonhos. Sonhos nascidos em egípcios e gregos e latinos. Sonhos vivos em lendas. Sonhos que em mim renasceram. Procuro um mundo perfeito para mim, onde eu possa viver com a minha inconsciência. Abraço o meu passado errante e faço traços em planos futuros. O destino dá-me mais do que os meus gestos alguma vez fizeram para merecer. Sinto-me sortuda, assim de repente. Sortuda por ter muito mais do que aquilo que sonhei. Talvez tenha sonhado pouco, não sei. No entanto, ainda me restam sonhos. Sonhar é bom. Sem sonhos, não se vive. Eu sonho sempre. Sonho muito.


Em memórias vivo. As ninfas e deusas abraçaram o meu fado em versos passados, escrevendo o meu destino com canetas permanentes. Instantes eternos nas minhas recordações. Agora já posso queimar-me. Incendiar-me. Tornar a minha história em meras cinzas. O meu diário. Páginas rascunhadas de sentimentos jovens e folgosos. Sentimentos que respiraram apenas segundos e foram, ainda assim, perpétuos. Mas ser jovem é isso mesmo: sentir tudo em nada.


O protagonista da peça teatral que vive nas minhas recordações, não é a corrente constante nas minhas veias, nem é o que aprendi das minhas vivências. O protagonista deste emaranhado de realidades foi aquele que me soube manter viva enquanto eu mergulhei nas almas em mim restauradas. Eu sou eu, e tantas outras almas. E o protagonista é apenas um. O protagonista nas minhas memórias é, sempre, o meu coração. Coração frio e quente, que ajuda e rejeita e sofre e sorri. Máquina que vive, revive e sente outra vez as imensas memórias de palavras lunares em forma de estrela.


E agora eu posso descansar. Porque apenas neste texto, eu revivi o passado no presente e acabei de planear o futuro. As memórias fazem de nós o que somos. E o somos nós? Afinal, não sei e não interessa. Todo o resto é insignificante. Nada mais importa. Fecho os olhos. Sonho com tudo e nada. Sou tudo e nada. Somos tudo e nada. Somos cinzas. Delas nascemos e nelas nos tornamos. Então, dorme. Amanhã, tudo passa.


Lara Filipa xX

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