O Esquecimento
A morte chega, isso é certo. A vida passa e todos morreremos um dia, isso é inevitável. E, por vezes, gostava de ser Ricardo Reis, para poder desenlaçar-me de ti. Gostava de ser Manuel Alegre para aceitar o tempo, onde corres e não paras. Gostava de ser Shakespeare para inventar uma palavra que diga o quanto preciso de ti. Gostava de ser Da Vinci para pintar o "lado de dentro". Gostava de ser Aristóteles para te explicar como a amizade é a mesma alma em dois corpos. Mas todas estas personagens são nada. Tudo isto é nada. No fim, toda a vida é nada. E a morte também. Ambos são um nada inevitável.
Eu só queria ser alguém – que não eu – para escrever poemas bonitos de sentimentos escritos em eternos versos. Eu queria ser alguém, com talento suficiente para escrever o quanto gosto de ti. Queria ser alguém, com mãos suficientes e muita força, para escrever o quanto quero que abras os olhos e digas que está tudo bem. Queria ser alguém que pudesse escrever, com tanto sentimento e com muita vontade. Talvez assim ouvisses os gritos agudos que solta a minha caneta em contacto com o papel. Talvez assim ouvisses o meu coração. Mas isso não sou eu. Então, eu só escrevo o que gostava de ser, enquanto te passo em palavras implícitas a minha perpétua esperança.
Estas palavras chegarão até ti, eventualmente. Então sabe, por favor, que estou a ser forte. Estamos a ser fortes. E tu também. Seremos todos fortes, contigo. Não estás sozinho. O tempo é inevitável. O esquecimento também. Mas o tempo parou para te ajudar. E eu parei para te lembrar.