Lara Filipa | Escritora

Tenho um animal em mim. Ele é autêntico. Ele parece ser um elefante ou um cavalo. Ou, talvez, seja ambos. Ele vive perdido algures entre um ambiente exótico e um ambiente alienígena. O meu animal interior é tímido, mas inteligente. Age selvaticamente e é impulsivo. O animal em mim gosta de carinho, mas quer vê-lo longe. Assusta-se com tudo, mas corre por aí à procura de aventuras. As fainas para ele são sempre úteis, mesmo que as aprendizagens delas advindas pareçam falíveis. Este animal ama o sabor do vento no cabelo. Mas também adora ficar parado a comer um bom petisco. O animal em mim é tudo.

Tenho um animal em mim. Ele é autêntico. Ele parece ser um leão ou um urso. Ou, talvez, seja ambos. Ele vive perdido algures entre um mundo tropical e um mundo glacial. O meu animal interior é feroz, mas pacífico. Age loucamente e é esfomeado de tudo e mais. O animal em mim ama dormir, mas anda sempre alerta. Faria de tudo por um bom bife, mas dá valor aos bons amigos. Os instantes para ele são preciosos, é rápido e paciente, mas a ânsia leva-o a precipitar-se. Este animal ama apreciar os detalhes. Mas adora ficar recolhido nos cantos comuns e vastos, num eterno vazio apenas observando. O animal em mim é tudo.
 

Tenho um animal em mim. Ele é autêntico. Ele parece ser um coelho ou uma serpente. Ou, talvez, seja ambos. Ele vive perdido algures entre uma vida eufórica e uma vida estática. O meu animal interior é amável, mas vingativo. Age sorrateiramente e é carinhoso. O animal em mim vive súbitas paixões e duradouros amores, mas mostra-se frio e calculista. Sempre sedutor. A cultura nada lhe diz, pois a cada dia que passa mais inculto se sente. A ignorância fê-lo questionar tudo, mas não aprende realmente nada. É bondoso mas sabe fazer por merecer. Dá valor ao destino e acredita que cada pessoa tem várias máscaras e peles. Este animal ama uma história de encantar. Mas também ama romances trágicos. O animal em mim é tudo.
 

Tenho um animal em mim. Ele é autêntico. Ele parece um pégaso ou um dragão. Ou, talvez, seja ambos. Ele vive perdido algures entre a realidade e a utopia. O meu animal interior é poliglota, mas único. Age magicamente e é lutador. O animal em mim sobrevaloriza vitórias, mas rejeita lutas fáceis. Ama desafios e usa o seu fogo para queimar atos imorais e gestos inúteis. A liberdade é o que o animal mais preza, mas dava tudo por correntes que lhe impedissem os erros. Este animal é perfecionista. Não é crente mas acredita em si próprio. Não discrimina nada e anseia a realização dos seus sonhos e ideais. Este animal amava usar a alquimia para descobrir o elixir da imortalidade. Mas também considera necessário um fim em todas as coisas. O animal em mim é tudo.

Tenho um animal em mim. Ele é autêntico. E é todos os animais, num só. Este animal pode ser apenas um. Um animal feliz, honrado e sonhador. Um animal cheio de todos. Considerado o produto mais monstruoso da história. Consideram-no uma lenda. Mas esta lenda está bem viva em mim. A junção de todos os animais num só. É uma história verídica, a que agora conto. A confirmação de todos os mitos, vive em mim e é único. O animal em mim é tudo. É todos. 

O animal em mim é uma Quimera.

Lara Filipa xX