O Amor Existe
Estou sentada num banco de jardim, com um velho caderno na mão. Sinto a fina brisa na minha nuca enquanto escrevo, parando para olhar ao meu redor. Quero chorar e sorrir ao mesmo tempo. Então, percebo, estou a pensar naquelas palavras outra vez.
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“O amor não existe. É uma farsa, tal como Deus, para tornar a desgraça da nossa vida mais suportável. Mais fácil de aceitar.” Diz ela. Ela nunca se cala.
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Não quero acreditar no que ela diz. Ela fala e fala e nunca se cala, mas eu não acredito em nada do que ela diz. Não posso acreditar que o amor não exista. O amor existe sim. O amor é o que nos mantém vivos e partilhamo-lo uns com os outros de alguma forma, todos os dias da nossa vida. O amor não tem uma definição, não se sente com as mãos, não se vê em formas, não se cheira em factos. O amor sente-se com o coração, vê-se em gestos e cheira-se em memórias.
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O amor é real. Podemos até chamar-lhe outra coisa qualquer porque, afinal, “ainda que a rosa tivesse outro nome, teria o mesmo perfume”, já dizia Shakespeare. É real isto que sinto. É real a energia das minhas pernas a baloiçarem. É real o vento e o arrepio que me faz sentir. É real o sentimento com que aquela mãe beija a testa do filho e lhe despenteia os cabelos. É real o fervor com que aquele casal se beija. É real o prazer que sentimos ao cheirar um perfume que nos recorde alguém que amamos. É real o sol que hoje nos sorri. É real o calor que sinto quando olho as pessoas nos olhos. É real a ligação que temos uns com os outros. A vida é real. É real. Sempre foi. Sempre será. Aceita esse sentimento, porque ele faz parte de todos nós. Todos somos capazes de sentir amor e todos o recebemos de alguma forma.
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A vida é cheia de amor. Não me podes dizer que o amor não é real. Eu sinto-o. Eu preciso de acreditar que existe alguma coisa boa neste mundo, e essa coisa é o amor. Eu acredito no amor. O amor é, de facto, evidente em todas as coisas. Em todos os gestos. Em tudo. Tudo.
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“O amor é uma invenção. Quando falas dos gestos de uma mãe para com um filho, isso é apenas carinho. Quando falas de um beijo entre casal, isso é paixão. Quando falas de perfumes, falas apenas de prazer olfativo. As memórias são inevitáveis. O sol também. A vida não é o amor. A vida é sofrimento, luto e dor.”
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E o que é tudo isso de que falas, se não amor? Amor é carinho, afeto, paixão, esperança, prazer. Amor também é saudade, sofrimento, luto e dor. Amor não é apenas um sentimento, são muitos sentimentos juntos. Se não é amor aquilo que sentimos pelas pessoas, então porque é que dói quando elas partem, quando elas morrem? Se não é amor aquilo que sentimos, então porque existe a saudade, o afeto, o sofrimento e a alegria? Se não há amor em cada gesto, então porque existe o prazer e o alívio? O amor está em toda a parte. É a origem de todas as coisas. Em tudo toca, por tudo se desfaz, por tudo se constrói. O amor é o princípio e o fim da eternidade.
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Se eu não acreditar no amor, não terei qualquer razão para viver. Se o amor não tiver qualquer importância ou valor, então eu não estou aqui a fazer nada. Eu e todos os outros. O amor não é uma condição necessária para a existência de Deus, é uma condição necessária para a minha existência. Eu preciso de acreditar em alguma parte da vida e essa parte deve ser aquilo que sinto, porque é aquilo que me faz sentir mais viva. Mesmo quando dói. Se não é real aquilo que tu sentes, se não acreditas nisso, então em que é que acreditas para te manteres viva?
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“Eu acredito em ti. O teu corpo é o que me mantém viva.”
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Mas és tu que ficas destruída, quando eu sofro. Tu também sentes. Quando eu morrer, não vai haver nada físico neste mundo, mas tu continuarás a existir. Basta acreditares no amor, e serás eterna. O sentimento dura a eternidade, acredita nisso e viverás para sempre e sempre. Nunca te apagarás no esquecimento. Eu não posso deixar que morras. Afinal, és a minha alma.
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Lara Filipa xX