Conto da Sagrada União
Eram dois amantes da vida. Ambos divertidos e dispostos a grandes sorrisos. Ela era linda. Ele era atraente. Encontraram-se e apaixonaram-se, como previu o destino. Durante onze anos, namoraram e foram felizes juntos. Da sua união surgiu um belo par de meninas, carinhosas como os pais. Distante, fui acompanhando o crescer do casal. Tantos sonhos por cumprir e foram cumprindo um de cada vez. Um desses sonhos por concretizar era o casamento.
Ontem, casaram-se. Foi algo em grande, tal como mereciam. Nunca parei de assistir. O ambiente estava perfeito. Esperámos a entrada da noiva, com ansiedade. O noivo sempre nervoso não podia parar quieto. Observei cada detalhe. O céu da Igreja enchia-se de imagens de Cristo e histórias figuradas de sorrisos e grandes feitos perante a fé. O altar era glorioso e era nele que esperava o noivo, virando-se para todos os lados à procura de tornar tudo perfeito apenas com um olhar. Do lado direito, os convidados do noivo. Do lado esquerdo, os convidados da noiva. Haviam belas rosas vermelhas de paixão a enfeitar os bancos.
Quando a cortina vermelha se abriu dando lugar à noiva, a melodia já tocava e já estávamos todos de pé. Quatro casais de crianças abriram espaço à noiva, que por pouco não chorou. O noivo esperava-a, quase reclamando que acelerassem tudo para a puder ter como sua para sempre. Eles soluçavam, sem lágrimas. O enorme vestido passou no meio dos convidados derrubando tudo para chegar ao altar. Mal ela tinha subido o degrau do enlace e já ele lhe estava a dar a mão e a olhá-la como se fosse a única deusa da terra. A sacra união deu-se. O vestido dela era branco e preto, não como mandava a tradição, mas como mandava a liberdade. Nada se cruzou perante a cerimónia, nem mesmo as pernas ou os braços dos convidados. Todos recebemos o acontecimento livres. Um maravilhoso futuro, sem traços, espera o casal. Quando sussurraram os votos e trocaram as alianças, as lágrimas foram inevitáveis, tal como inevitável foi a exaltação pelo vínculo se estabeleceu. Logo de seguida, batizou-se a filha mais nova deles, com um sorriso e muito amor no ar. No fim do matrimónio, os noivos saíram da Igreja sendo bombardeados com pétalas de rosas e arroz. A alegria fez-se promessa entre o casal, por baixo do céu que cobria o mundo de glória e triunfo.
A sessão fotográfica fez-se com atrevimento e paz. O sucesso era parte da alma do casal, depois de conquistada a maior aliança das suas vidas. Uniram-se de todas as formas possíveis. O matrimónio foi mais uma incrível junção. Cheios de êxito e felicidade conviveram com os convidados e agradeceram-lhes a presença. As fotografias eternizaram a imagem do momento.
A tarde foi cheia de dança, diversão e muitas gargalhadas. Os noivos foram os primeiros a dançar alegres e contentes, como era de se esperar. O orgulho deles ficou patente quando dançaram com a filha mais velha e o seu grupo de hip-hop. Houve muita magia e muita festa. Durou até o cerrar da noite. Cortaram o bolo do batizado, enquanto se lançavam balões. Cortaram o bolo do casamento, enquanto se lançava o fogo-de-artifício. Vimos o filme do namoro de ambos. Todos dançámos, todos festejamos. Celebrou-se a boda. O prazer da fortuna em se terem um ao outro via-se nos seus olhares. A melhor parte, foi a sintonia e a alegria com que se amavam desajeitadamente. O amor é assim, desajeitado.
O dia acabou tarde. Ficámos todos cansados de tamanha festa e tamanha emoção. Apesar de todas as dificuldades, o grande momento realizou-se. Cerimónia bonita. Escrevo isto como um agradecimento mais pessoal ao casal. Agradeço-vos por poder presenciar uniões como esta. São um casal lindo, e serão até ao fim. Felicito-vos pelo harmonioso conúbio. Parabéns. Sinceros parabéns. Que a vossa vida continue como tem sido sempre, ou melhor. Adoro-vos.
Eram dois amantes da vida. Dois amantes um do outro. Duas partes de um casal que viveu feliz para sempre.
Lara Filipa xX