Lara Filipa | Escritora

As pessoas não entendem a velhice. A beleza patente nas rugas. As pessoas não percebem o que significam todas as marcas de cada corpo. A sociedade, atualmente, quer apenas mascarar tudo o que não é perfeito. Eu não concordo com isso. Para mim, a mais pura beleza é aquela que fica depois de qualquer experiência (boa ou má). Para mim, a beleza está em cada marca, em cada traço, em cada cicatriz, cada ruga, cada derrame, entre outras possíveis marcas. Encantadoras marcas que nenhuma voz contaria de melhor forma ou com mais magia. A sabedoria é bela e não existe na juventude.

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Olho o espelho. Imagino-me daqui a sessenta anos. Rugas espalhadas por todo o meu corpo. As pernas num desgaste pesado. Coração forte com batidas lentas. Cabelos brancos. Pele envelhecida pelo tempo e desprezada pela juventude que não estará mais presente. Braços cruzados sob o peito descaído, com o objetivo de tapar a nudez que deixou de ser bem-vinda. Quase como um antiquado relógio que já não bate certo sobre as horas, este corpo é atirado para o lixo, ficando fora das grandes plataformas da beleza. É velho e marcado por cicatrizes incontornáveis. Eu acho-o belo. É enrugado, antiquado e vivido mas verdadeiro. Obsoleto mas real. Considero-o muito mais bonito do que qualquer plástica que o pudesse esconder. Tremendamente mais sensual do que qualquer barbie postiça.

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Num espelho com um reflexo imaginário, a sensualidade da velhice vem da personalidade. Os cantos dos olhos desfeitos pelo riso expressivo de toda uma vida. Os olhos continuam brilhantes porque a veracidade faz a aceitação. Não existe tristeza, nem vergonha. Nunca devemos ter vergonha de sermos honestos e velhos. A voz da experiência diria que quem sorri é sempre belo. Afinal, a sociedade está errada. Penteio os meus cabelos brancos com orgulho e digo o quanto sou linda uma vez mais. Um beijo de batom vermelho no espelho diz que os meus lábios são finos mas não me revela a idade.

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Viverei a vida inteira a procurar a felicidade e a aventura no seu melhor e mais divertido conceito. Dançar até mesmo quando as pernas já não o permitirem. Orgulho-me desse mantra, pois grande parte das mulheres vive a vida inteira à procura de satisfazer um sempre insatisfeito ideal de beleza. O melhor de ser humano é que nunca se pode ser feio, apenas se pode ser falso. Quem diria que um dia chegaríamos ao ponto de dizer que um ser é velho demais para ser modelo. As sereias fazem-se pela forma como nadam e nunca pela cor da barbatana.

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A imaginação volta ao real. Sou novamente jovem. E nunca mais bonita ou mais feia por isso.

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Lara Filipa xX