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As Minhas Coisas E Tu

Sabes, meu amor…

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Chama-se “coisa” a tudo o que seja disforme e não tenha uma identidade certa. Coisas podem ser objetos, memórias, momentos, pessoas e até mesmo a própria alma. A única certeza acerca daquilo que se diz ser uma “coisa” é que deve ser real. Real seja, de facto ou por imaginação, mas sempre real. Podes encará-lo por qualquer outro nome (se assim o pretenderes) mas, hoje, eu vou falar-te das minhas coisas. E é por esse nome que me vou referir a isto (que nem eu compreendo o que é) quando estiver a falar de uma forma mais geral. Não te esqueças nunca de que aquelas que são doravante as minhas coisas irão adquirir, a partir do seu disforme conteúdo, um significado tão importante quanto tudo aquilo que me constrói. As minhas coisas são, no fundo, quem eu sou e tudo o que contribuiu para que eu seja quem eu sou.

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As coisas, meu amor, podem ser boas ou más. Falando apenas por mim, posso dizer que eu tenho coisas muito boas na minha vida. Não são muitas, mas fazem-me feliz. Na realidade, nem sei se existem mais coisas boas ou coisas más na minha vida, mas tentar medir quem sou a partir do que tenho far-me-ia menos cheia e menos feliz. A quantidade de coisas boas que eu tenho não importa realmente. O mais relevante é que, mesmo quando o mundo parece impossível de suportar e o sol já não brilha, essas coisas boas são as que seguram a minha felicidade e me salvam de tudo, incluindo de mim. Essas coisas muito boas da minha vida são, realmente, coisas tão mas tão boas que, por vezes, parecem-me surreais.

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A nossa relação é uma dessas coisas boas. Uma coisa boa que me faz querer viver por muito, muito tempo. E, às vezes, ainda parece tão surreal. Nos momentos em que a nossa relação parece demasiado boa para ser real, eu fico com medo, sabes? Fico com muito medo mesmo. Medo de que não seja real. Medo de ter sonhado com aquilo que realmente aconteceu. Medo de ter sonhado que nós somos nós e que temos uma relação. Medo de que tudo se evapore quando fecho os olhos ou quando largo a tua mão. Então, quando tenho medo, eu toco na aliança – a linda e brilhante aliança de namoro que tu me ofereceste no meu décimo oitavo aniversário. Eu toco na aliança e respiro fundo para me acalmar. Quando o mundo está a ruir ao meu redor e nada parece real, quando as pessoas se transformam ou partem da minha vida de alguma forma e quando parece que todo o resto vai desaparecer também, quando eu já não sei quem sou, quando os meus pensamentos perdem a linha de sentido, quando o futuro soa demasiado negro ou o meu quarto soa demasiado desconfortável, quando estou sozinha… Eu fico com medo. Eu sinto o medo. Por isso, eu toco na aliança. E tudo parece salvo.

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As nossas alianças são a realidade material que me faz acreditar que nós somos reais e que eu tenho realmente alguém como tu na minha vida. Alguém na minha vida que é tão querido, atencioso e compreensivo. Alguém como nunca antes conheci. Com quem desejo viver. E por quem me apaixonei. Quero agradecer-te por tudo isto, meu amor. Quero agradecer-te por me teres proporcionado todas as nossas “coisas” mas, principalmente, pela nossa relação. Quero e preciso que saibas que eu me sinto agradecida por este sentimento todos os dias da minha vida. Quero e preciso que saibas que este NÓS é uma das razões para me incentivar a ultrapassar e superar os dias mais difíceis.

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Um dia, espero poder contar que quando eu tiver medo de que tudo desmorone, assim como agora, tu vais estar ao meu lado a dizer-me que vai ficar tudo bem (mesmo que isso não seja verdade) e a dizer-me que NÓS SOMOS REAIS.

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Um dia, espero não ter que tocar na aliança que nos representa para saber que és real e que estás na minha vida. E que nunca me vais deixar. Um dia, espero poder mandar embora o meu medo ao tocar-TE A TI e não ao tocar em algo que te represente. Não sei se me fiz compreender. Nem sei se me compreendo.

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De qualquer forma, eu amo-te. Não te amo só às vezes ou só alguns dias, amo-te sempre. Constantemente, avassaladoramente. Sabe que, muitas vezes, este amor é a única referência para acreditar que (sejamos reais ou não) eu estou viva.

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Eu estou viva, meu amor.

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Lara Filipa xX

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