A Sentença
Sinto o frio. O frio quase parece uma inteira galáxia oposta à nossa realidade. Temperatura contrastante com o calor que emana da tua pele. Estamos sós. As minhas unhas cravadas nas tuas costas e só penso em todas as tuas qualidades. Sou um furacão de sensações e tu és o centro da minha confusão. Quebras a minha alma e o meu corpo sem piedade, mas não me importo. Quero-te tanto e agora mesmo. Quero a tua alma em contacto com a minha no imenso inferno. O inferno parece prometedor, porque ao céu já me tinhas levado. E não me recordo de o céu ser assim tão bom como o ardor cheio de prazer que agora me fazes sentir. “Bem-vinda ao Inferno” Sussurras ao meu ouvido. Quero-te para sempre comigo, sós. Podemos escapar para um universo paralelo e amar-nos para sempre. Diz que sim, por favor. Nem precisas de dizer que sim, podes apenas levar-me contigo e deixar todo o resto para sempre. O resto não importa quando o essencial és tu. Amor é a confusão que todos desejam e eu desejo-te a ti.
Abro os olhos e controlo a visão que tenho dos teus. Os teus olhos são um espaço onde posso navegar permanentemente, sem me preocupar com nada mais para além de nós. Dentro da minha paranoica imaginação, podemos ser o que quisermos. Podemos ser o príncipe e a princesa, o herói e a heroína, a doença e a cura, o frio e o calor, o ódio e o amor, o barulho e o silêncio. A tua robusta pele a roçar na minha pele macia. A rapidez das imensas possibilidades voam e, sendo inalcançáveis e paranoicas, deixo-as ir. Deixo ir as possibilidades, mas não te deixo ir a ti. Aperto o teu corpo contra o meu como se a minha força segurasse o mundo. Se te deixar ir, tenho que ir contigo e isso dá muito trabalho. Podemos, somente, ficar aqui. Aqui, no inferno dos nossos lençóis incendiados de fascínio e luxúria, e nunca mais largar os corpos um do outro. Tiraste-me do meu buraco negro e trouxeste-me para os teus braços, por isso, peço-te: segura-me para sempre e nunca te evapores. A não ser que queiras evaporar-te comigo e misturar os nossos suores. Mas isso dá muito trabalho.
Tenho várias razões para te amar, como os teus lindos olhos e o teu sorriso maravilhoso. Uma das coisas que cativou o meu coração foi esta imagem que agora tenho: o teu corpo ao meu lado ofegante. Simples e intenso. Mas o amor não é racional. Eu amo-te porque te amo. Não te escolhi. Simplesmente amei e amo. Sinto que é eterno. Não sei se vai durar para sempre, mas também não importa. Ainda mal houve um início e não me apetece preocupar já com o fim. Afinal, e como diz Caio Fernando Abreu, "Não importa quanto tempo vai durar - é infinito agora.". Usa este imenso infinito para reacender o fervor e o prazer da nossa paixão. E fá-la durar. Desejo que sejas a minha verdade sem fim, mas infelizmente não possuo a lâmpada de Aladdin. Só te tenho a ti e espero que sejas perpétuo, por meio de efémeros orgasmos.
Sei que sou indecorosa, sonhadora, insaciável, desinteressante e completamente apaixonada por ti. Somos dois mundos tão antagónicos e, quiçá, esse será o maior defeito da nossa união. Mas sou tua. Ser tua não cura todos os defeitos? Venero-te como se eu fosse cristã e tu fosses Deus. Talvez esta religião que acabei de inventar me leve a um ataque cardíaco, nesta idade tão precoce. Ou talvez seja apenas o cheiro a suor e a sexo que me está a acelarar de novo o coração. O meu maior desejo és tu, com ou sem defeitos, com ou sem erros. Somos tão diferentes e é tarde demais para te pedir que me devolvas, com misecórdia, o coração. Parei, agora mesmo, de tentar resistir-te, visto que não consigo controlar-me. Uma doce e leve carícia tua na minha coxa nua, e já me acalmei.
Estás ao meu lado a dormir. A tua cabeça descansa no meu peito, os teus braços abraçam-me, e as tuas pernas são heras que nos fazem eternamente entrelaçados. És a minha droga e eu estou tão viciada em ti. Apaixonei-me sem o querer e agora permaneço numa teia imensa da qual não consigo sair. Ainda assim, o conforto das nossas essências conjuntas ultrapassa todo o resto. Sussurro-te ao ouvido que quero unificar a chama que nos incendeia. Tudo isto enquanto te passo a mão pelos cabelos e te vejo dormir como o anjo-diabo que és. Talvez não devesse amar-te para poder conservar o meu amor próprio. Mas é tarde demais, pois já te amo muito além do que a mim mesma.
Não quero a emancipação, uma vez que ter-te é uma vitória. O meu único sucesso. E, mesmo assim, o meu amor por ti tornou-se o meu próprio abismo. És a minha sentença.
Lara Filipa xX