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A Injustiça

Primo,

 

Estou devastada. Soam por aí, a correr em todo o mundo, várias notícias, sobre como está a ser experimentado em laboratório um qualquer método, dado como brilhante. Esse tal método (nem percebi bem como funciona) não é dado como algo em concreto, no entanto está a ter resultados fantásticos. Os médicos não param de sorrir ao mundo, a dizer que encontraram a salvação para grande parte das mortes. É a cura para o cancro. Não posso evitar sentir-me injustiçada. Sinto um quase ódio daqueles que sorriem em nome desta nova experiência. Não quero ser cruel, nem desejo o mal dos outros, nem pouco mais ou menos. Apenas sinto que é injusto. De facto, desejo que seja a salvação dos próximos doentes de cancro, mas, meu querido, e tu? E todas as outras pessoas que sofreram e morreram por esta maldita doença? E todos os outros que não ficaram para contar a história?

 

De alguma forma, desejava que tivessem encontrado essa tal cura (ou outra qualquer cura), muito antes de teres falecido. Dessa forma, não terias sido arrancado de nós tão precocemente. O que é suposto eu fazer? Sorrir? Sorrir porquê? Tu já partiste. Agora, essa cura pouco me diz. A raiva cresce em mim e não a consigo parar. Quero chorar, pois merecias essa estúpida cura e não a tiveste. Eras um bom homem, sempre foste, e queria-te aqui. Connosco.

 

Afinal, que vida é esta? Queria-te salvo, essa foi a minha única vontade. Não se realizou. Sabes porque não se realizou? Não se realizou por causa da incompetência desta gente. Por causa da falta da cura que, agora que já foste, existe. Não posso impedir-me de pensar na injustiça e crueldade que estão aqui patentes. Não te salvaste. O que é suposto eu pensar? Chamem-me egoísta se quiserem, mas o facto é que a melhor pessoa deste mundo partiu. A cura podia ter vindo um pouco mais cedo, só para te salvar.

 

O mundo está um caos e, de qualquer forma, espero que se salve do fim iminente. Desejo sorte a todos os que terão de mendigar essa cura para não morrer. Mendigar uma cura para não morrer. Não soa triste? Não soa cruel? Pois, também penso que sim.

 

Um abraço, meu primo. Até sempre.

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