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A Gravidade Depois De Nós

A gravidade não exerce total força sobre as lágrimas, sabias?

Deito-me sobre a cama e deixo a minha cabeça cair, sem qualquer apoio. Assim, de cabeça para baixo, choro. É assim, de cabeça para baixo, que percebo que as lágrimas não deslizam pela minha testa. Tenho as bochechas húmidas e os cantos dos olhos vão acumulando a água como lagos atormentados pela chuva. A gravidade não exerce total força sobre as lágrimas. Fenómeno sobrenatural, aquele que preenche a minha face. E a tua. Confessa. Eu sei que choras.

Acabaste de partir. Depois de um beijo demorado, senti-me como a mulher de um soldado que sozinha ficou. Partiste. O som da porta a fechar ainda ecoa pela minha mente. E com ele, as palavras que me sussurraste ao ouvido. Fecho os olhos, levo as mãos à cabeça e tento limpar as lágrimas (sem sucesso). Continuo mergulhada no meu próprio sofrimento e saudade. Tanta saudade. Saudade de nós.

Revivo as imagens dos segundos que há pouco por nós passaram. Os teus olhos em mim enquanto caminhavas para longe. Fechei a porta e levei a mão ao coração, cerrando o maxilar para forçar um sorriso. Corri para a janela e ainda consegui apanhar os teus lábios para um último beijo, em bicos de pés. Através da janela, o mundo foi outro. Dentro de casa estava vazio. Lá fora, estavas tu. A partir. Fiquei a observar-te até que fosses do tamanho de uma pequena formiga e estivesses demasiado longe para que os meus olhos te conseguissem alcançar. A forma como andavas para longe de mim, o meu coração a afundar-se aos poucos. Enquanto isso, voltavas a cabeça de vez em quando para me acenar um adeus ou para me atirar um beijo. Queria que voltasses e me dissesses que ias ficar. Sei que não pode ser, mas não me consigo impedir de o desejar. Não me impeço de TE desejar. Mais e mais.

Foi apenas há uns dias que me sentei no banco de um parque à beira do rio, para te esperar. Ouviam-se os comboios ao longe. Estava eu a ler e a querer que chegasses depressa. Chegaste e agora já estás longe outra vez. Se soubesses o quanto eu estou disposta a lutar por nós, nunca sairias de perto de mim. Quem me dera que fosse assim tão fácil. Quem me dera não estar a chorar agora, sozinha. Soluços que ecoam. Paredes vazias de ti e cheias da nossa história. As lágrimas pesam mas não deslizam pela testa, nem caem. Ficam em mim e nas minhas bochechas rosadas de um choro convulsivo. Tudo isto sem ti. E sem a gravidade.

A gravidade não exerce total força sobre nós, sabias? Se isto fosse mentira não estarias, agora mesmo, a ir para longe e a deixar-me aqui. Se isto fosse mentira, seríamos ímanes. A gravidade não exerce total força sobre nós. Fenómeno sobrenatural, aquele que preenche o meu coração. E o teu. Confessa. Eu sei que dói.

Lara Filipa xX

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