A ExistĂȘncia
As pessoas andam. Alheias ao resto do mundo. E a ti. Tu, que vens e foges e corres. Mas ficas. Sempre ficas. As árvores nunca foram mais bonitas, nem o caminho mais nobre. Então, tu pisas, passo a passo, o chão de nevoeiro que cobre a bola de gelo que é o mundo. O universo derrete mesmo debaixo dos teus pés e derretes com ele.
As pessoas andam. Apenas a vida delas existe e elas sentem. Mesmo assim, tu não sentes, nem existes. Eu? Bem, sim, eu existo. E penso em ti, que não vives. Enquanto tentas viver, eu olho. Apenas a observar. Fecho os olhos e vejo, por trás das minhas pálpebras, a alma dos outros e a tua. Sinto. O vento a correr. Ele passeia sobre os traços do meu rosto. Carícia sentida e não vista. O vento é bruto por fora e meigo por nós, que somos a parte de dentro. O meu corpo está dorido de tensão e pensamento. Os olhos deixam-se chorar um pouco mais. Soluços e gritos, mas faz-se silêncio. Silêncio dentro de mim e os pensamentos param. E, de súbito, sou como tu: invisível a olhos de gente presunçosa. Somos transparentes.
Tu? Tu andas e corres e ris. Voas e nadas. Tu sempre voas nas ondas. Eu queria desenhar-te voando. Juro que, se eu soubesse, desenharia o amor que experimento ao ver-te nadar no mar celestial que não existe. Tu? Tu, meu querido primo, não precisas de existir para me dares sorrisos. Mesmo assim, diz-me, existes?